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Clarinadas

 

59 BRUTALMENTE A PORTA RANGEU, dois sujeitos armados plantaram-se no meio da sala.

      –  É aquele o homem! berrou o grandalhão apontando o revólver para Arno.

         –  É este! disse o outro.

         –  Não vê, sua zebra, que esse é o gringo?

        Léonard atracou-se com o grandalhão. O comparsa agarrou de cima da mesa o martelo e deu-lhe um golpe na cabeça, ele caiu no chão, enquanto arrastavam Arno escada abaixo.

        Monsenhor, que despertara com o ruído do motor do carro, ainda vira a consumação do sequestro. Subindo, deu com o coadjutor caído no assoalho.

         – Léonard! Padre Léonard!

      Pensou no primeiro momento que estava morto. O padre gemeu. Colocou-o na poltrona e, com a ajuda do meeiro, o levou para a Clínica do Dr. D'Ângelis.

 

      A Rádio Comunidade deu o "furo" manhã cedo, reticente, sem alarme. Logo no Jornal da Serra o retrato do coadjutor era maior que o texto.

      Noticiava  que  se  tranquilizasse a Família santarritense. Mercê da solicitude paternal de Monsenhor Brasil, o covarde assalto não tivera maiores nem graves consequências.

        Como já era do conhecimento geral, na calada da noite fora nossa cidade, a pacífica Santa Rita, lamentavelmente palco da condenável ocorrência. Que não ficaria, estivessem todos certos, impune, tal qual tinha vezes outras procedido a autoridade policial.

   Eram  dois meliantes encapuzados, vindos de lugar desconhecido que, aproveitado do relativo afastamento da casa paroquial, audaciosamente haviam assaltado a residência do nosso boníssimo Vigário. Não deparando no modesto sítio objetos de real valor que pudessem subtrair, solertemente vingaram-se na pessoa de nosso novo Coadjutor, Léonard Rohan, o simpático Padre Léo.

     De lamentar, que os bandidos vendo ali, de visita, o Dr. Arnóbio Franco de Melo, o levassem em seu carro na fuga precipitada, esperando que abandonem sequestrado e viatura em qualquer parte. Dr. Brás Neto, delegado, promete boas notícias para breve, pela Rádio.

     Na Clínica Dr. D'Ângelis, ele e Equipe já colocaram Padre Léonard fora de perigo. Pronto restabelecimento, Padre Léo! Cumprimentos, Mons. Brasil!

       O delegado prendeu dois ajudantes de pedreiro, mantendo-os incomunicáveis como suspeitos do atentado. Duendes em desenho animado, os rapazes evaporaram-se pelo telhado da Delegacia na noite seguinte. E o reconhecimento pelo padre Léo ficou para quando fossem recapturados. Dr. Brás Neto sabia fazer as coisas.

 

   Prisão  de  Arno e violência contra o padre foram logo ofuscadas por acontecimento maior. Não parecera oportuno nos dias do Golpe, mas agora que a situação se acomodava, não havia porque adiar.

      E eis a cidade, uma tarde de sol, narizes pro céu à espera da descida do helicóptero na plataforma da Clínica Dr. D'Ângelis.

     De repente um ponto no azul sem nuvens (Lá vem ele!). O ponto cresceu (De certo vem da base militar de Agulhas Negras!). O ruído encheu os ares sobre as cabeças (Eu  é que não montava num bicho desses!).

    A aeronave fez uma volta baixa sobre a multidão e todos bateram palmas, puderam distinguir os ocupantes: o piloto atento, Dr. D'Ângelis a acenar, Dr. Chris atirando volantes. Era a foto do Pássaro Branco: Salvador de Vidas. com dez itens explicativos de sua utilidade.

      O helicóptero deu-se ao luxo de uma volta ao longe, veio pousar vertical, suave, no heliporto embandeirado no alto da Clínica.

        Gritos: Desce! Desce! Queremos ver de perto!

        Besouro ruidoso, meia hora depois o Pássaro Branco baixou na praça. Para maior realismo, com um "acidentado" que ao saltar da maca, lépido, rindo foi envolvido de abraços e vivas, era o Totonho sacristão.

       Porém o ponto alto aconteceu a seguir. Quando o chefe do Correio chegou esbaforido. Trazia uma mensagem telegráfica do Sr. Deputado Jorge Menescal.

         Dr. D'Ângelis leu alto, em tom de discurso –

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

      Olhando decolar o helicóptero, o povo dispersou cantando vivamente o Peixe Vivo.

POVO DE SANTA RITA E CORRELIGIONÁRIOS! Saudações Revolucionárias

     Eu, que como todos sabem, nunca busquei na vida pública nem proveito nem conveniências, honrosamente guindado a Coordenador da Coalizão de Minas Gerais, vejo-me infelizmente impedido de comparecer ao marcante acontecimento, o agigantado passo em prol do progresso em aeromedicina de nossa amada cidade.

     Meus calorosos aplausos ao benemérito e incansável Dr. Albano D'Ângelis e Equipe. Aproveito a ensancha para lhes assegurar, meus patrícios, que o patriótico Movimento de trinta e um de março está vitorioso e Minas Gerais, hoje como ontem, na vanguarda intemerata. Neste momento histórico, zelosas damas horizontinas da sociedade revezam-se bordando nova faixa presidencial que será ofertada ao novo mandatário da Nação. Acabou a insegurança do povo, a incerteza do futuro do povo,esperamos uma Pátria grande e feliz, brasileiramente democrática agora.

     Conterrâneos meus, breve desfrutarei a dita de estar entre a família santarritense! Meu caloroso abraço,

 Deputado Jorge Menescal

Ao povo de

Santa Rita - MG

A/C Dr.Albano D'Ângelis e Equipe

 

Dep Jorge Menescal      16 CP MR           LK 876 FR

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