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50 NAS ÚLTIMAS DÉCADAS, os loteamentos haviam expandido Santa Rita da Serra em bairros novos e condomínios. Cortes verticais de encostas vermelhavam na distância.

       Soraya: Que pena, não visitei as instalações industriais da fazenda.

        – Tudo fechado pra evitar a invasão de tanta gente. Então, e meu velho?

      – Primeiro, ele não é velho. Segundo, com que graça se desculpou de não poder atender a gente. Mas me relanceou um olhar fino... Você acha que colou essa de Zé-Geraldo fazer de noivo?

         – Tal resposta, minha querida, você a terá na eternidade.

         – Na eternidade, Arno?

         – Soraya,  lembre-se  de  que está no maravilhoso  – e fino  – País das Gerais.

          Ela sorriu, entendendo.

        – Tenho uma coisa a contar a você. Faz um mês mais ou menos estive na butique. Com uma amiga.

          – Jovita estava?

         – Sim.  Porém  quem  nos  atendeu foi uma balconista. Na hora chegaram duas colegiais e ela logo saiu com as meninas.

         – Ana Mariana e alguma coleguinha. Jovita almoça todo dia com ela. Viu Ana Mariana?

         – Mãe e filha, tudo de relance.

         – Achou a garota parecida comigo?

         – Com a mãe.

     Depois de contemplar colinas e planícies, desceram pelo mesmo caminho. Sem falar. Um e outro parecendo refletir no que tinham acabado de conversar.

 

         Saltaram seguindo a pé pela pracinha de coreto e canteiros em forma de estrelas onde ficus recortados baixo afiguravam cubos, esferas e pirâmides. Ela chamou a atenção para o detalhe.

       Arno: Cala-te, forasteira. É o luxo dos munícipes. Atenta, atenta pro cheiro de café, das muitas torrefações por aí, característica da cidade. Outras há, você verá todas.

    – Sim, Arno, me diga o que acha Nestor de nosso relacionamento.

        – Oh, querida, Nestor é meu amigo! Você se preocupa com certas coisas... Me disse uma coisa engraçada.

         – O quê?

      – Não se zangue. Que você assimilou expressões e jeito meus, será?

         – Arno, eu sou você.

      – Querida, perdoa o lugar-comum. E você é a mulher da minha vida.

         Silenciaram.

      Passavam pessoas, algumas acenavam amigamente para Arno.

         – E como vão os seus? perguntou ele.

       – Ah,  tenho  esquecido  um  pouco  minha gente. Várias cartas para responder...

         – Você aniversaria mês que vem. Não esqueci. Que quer de seu amigo?

          – Que posso querer mais do meu amor?

     – Como  é  grato  ouvir  essa palavra. Sabê-la feliz, plenamente feliz.

         – Ah, sim, você pode me dar um grande presente.

         – O quê? fala.

       – Penso muito, muito, Arno. Nos seus artigos e nas cartas anônimas que vem recebendo. Noite dessas sonhei com isso. E se você parasse? Repetia meu professor de francês: "Deixamos o mundo tão torto como o encontramos"...

        – Agora o sonho. Me conta.

      – Ah, amor, vamos falar agora em coisas alegres. Me sinto tão feliz em ter vindo conhecer Santa Rita e tudo que se relaciona com você...

       Desejou visitar a matriz. Fazia-se um pedido especial quando se entrava pela primeira vez numa igreja.

      – Pode-se saber o seu pedido especial?

    – Pena  que  o  tempo, inimigo ciumento, não tenha poder sobre nosso amor. Acrescentou baixinho: Arno, Arno, este amor é bonito demais para durar... e enxugou uma lágrima.

 

      Cansadíssimos porém contentes, os visitantes retornaram ao Rio ao cair da tarde. Tudo dera certo. Tio Justo veio trazê-los fora, insistindo que voltassem noutra ocasião, em dia que ele pudesse recebê-los. Ainda uma vez desculpou-se. Despediram-se.

       No carro, o animado de primeira hora calava.

       Soraya: Que está sentindo, Zé-Geraldo?

       – Sooono.

       Joel pediu licença pra ligar baixo o rádio.

 

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Meio-dia de sábado e sol

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