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Ok. Elevemos o padrão. Que pensa da existência em geral?

Tenho um conhecido que afirma: ela não é o feito-pelo-homem. Outro: é uma enganação. Na infância, certos momentos, o espanto de existir me assaltava e saía correndo. Batia com a cabeça no muro, dava um grito e, claro, não chegava a nada. Mas vale a pena ter vindo aqui uma vez pra ver como é, não?

Qual a cor preferida do amigo?

O verde.

Então um otimista. Como viu o último empate do FLA-FLU?

O rubro-negro merecia a vitória.

Eu atendo ao querido público. Responda o nosso entrevistado, se quiser. Já experimentou droga?

Já. Faz tempo, pra ver como era. Queria conhecer a relação entre droga e criatividade.

Não precisava se justificar. A que chegou?

Bem, me lembro de viagens fantásticas e de enorme acuidade em relação a mim, às pessoas, liberto como se eu fosse outro. Mas durante aquilo não me motivava para a escrita. E o ruim vem depois... Literatura, meu caro, qualquer arte é cultura, trabalho suado, não brota de artifícios procurados. Esta a lição, pelo menos pra mim.

Completando: Psicose... Sim, psicose ou neurose, isso ajuda em arte?

(Parou para pensar)

Atrapalham, estou certo. Tenho amigos artistas, portadores de uma ou de outra, e sei da luta deles pra se realizarem.

Que gostaria que ficasse de você?

Não muita coisa. Um ou dois livros.

Ok! Só resta e este entrevistador agradecer a oportunidade. Última perguntinha: tem alguma divisa, qualquer achado do gênero?

(Pausa do entrevistado, e encerrou:)

AMAR, PARA NÃO MORRER.

 

 

 

 

24 GRAVADOR NA MÃO, plantou-se Vilanova à porta que Margarida acabava de abrir, atirou sonora frase:

     – Que  rotina  em  grande  escala! Não acontece um terremoto nesta Urbe! (deu um bocejo cósmico). Mas hoje vamos ouvir algo de novo!

     Era  sábado  à  tarde. Propusera a revista mundana entrevistá-lo e Arno, que tentara adiar, tinha ali o amigo.

          – Tudo bem, queridos?

          Arno: Meu caro jornalista, que pode te dizer nesta tardinha um intoxicado de remédios e inalações?

      – Esquece!  Vamos  trabalhar.  Verás  que  não  farei perguntas mais compridas do que as tuas respostas. Aliás, um bate-papo relâmpago pras meninas, ok?

 

          Eis as duas páginas de Sombra  –

 

Pag

 26/70

Bacharel em Direito

 

 

   FALA ARNO O MOÇO

 

 Country Club da Barra à borda da segunda piscina. Ali

 nosso entrevistado de hoje

              copo de uísque e o inseparável  cachimbo

              lia uma revista estrangeira. A dois passos

o motim aquático  das  bonitas frequentadoras

                                                                 na manhã,

enquanto nos acolhia com sua proverbial cordialidade.

   Queridas leitoras (es) gozem o show de inteligência

   de Arnóbio Franco de Melo.

 

                                                           Tony Vilanova

 

Comecemos com amenidades.

 

Em que tempo você gostaria de viver?

Gosto do meu tempo. Apenas luto pra não ser total prisioneiro da imagem do mundo atual, mundo de geral padronização.

País onde gostaria de ter nascido?

Aqui mesmo. Me sinto à vontade no Brasil, embora me desgoste às vezes.

Que achas da mulher?

Assim, à queima roupa? Há muitas mulheres numa só... Que seja a fabulosa atriz que já é. que nos inventa a festa, a portadora da alegria.

No dia-a-dia que mais detesta?

Moscas. Mas os integrados, os demasiados integrados me incomodam. Roem calados a bela face do mundo.

A maior desgraça pra você seria...

Primeiro: não saber admirar. Segundo: perder o sentido lírico da vida.

O fato militar que mais admira?

Nenhum. Ah, sim, a Batalha de Itararé... que não houve.

Política?

Prefiro mudar de assunto, Vila.

 

cmp

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