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        XXIV

 

O   I N C O N Q U I S T A D O

 

 

 QUANDO a Lua se arredondava enorme no céu é que dava de falar. Parece que a Lua o embebedava.

     Não fazia gestos. Debruçava as melenas, da janela da mansarda e, ridículo e empiolhado, perorava para os astros:

     "Eu sou o inconquistado. Não me revolto porque sou o dinamitador das pontes futuras. Nem contra a fome, eu sou de diamante. Eu mando no vento, nas flores, na água, os pássaros são meus, são minhas as nuvens , e eu delas! Tudo me pertence por direito natural!

      Ninguém me conquistará, ouviram? Eu sou anterior ao primeiro legislador e eu zombo das suas tábuas. Não tenho pai, não tenho mãe, não tenho irmãos. Nem amada eu tenho. Que importa! Eu tenho o sonho. Ficai com o vosso ouro, estourai o ventre com ele, bufarinheiros! Eu tenho o sonho - e sou dono de todas as coisas, as presentes, as de ontem, as que hão de vir.

      É por isso que eu tenho asas, e eu levito acima de arquipélagos e templos. É por isso que a Morte me teme - eu já morri antes de ela chegar e ressuscito na antevéspera!"

     As máscaras lustrosas que se postavam em cada vão do edifício vizinho achavam-no um espetáculo muito divertido.

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