Xavier Placer
XXV
S U R D I N A
VÃO-SE, um após outro, os dias - e tu olhas, às vezes indiferente, às vezes inquieto.
Vão-se, um após outro, e nenhum gesto teu pode deter o perpétuo, o célere escoar dos dias breves.
(Espreita as outras faces e indagas. Mas as outras faces passam, distraídas ou absortas, e não te confidenciam o seu segredo - talvez porque não o tenham, talvez porque seja incomunicável).
Com os dias, é a tua vida mesma que se vai, a tua vida que caminha para o chão do esquecimento.
Então, exaltado pelo sentimento de tantas horas já perdidas, despertas numa alegria selvagem, e patético te dizes: "Vivamos, oh, vivamos esta hora!"
E vives essa hora.
Mas logo teu sôfrego coração, voluptuoso de mais, de algo mais - impossível - afunda no tédio das horas vazias, entre o desejo e o gozo.
E de novo te aquietas, devorado pelo surdo desespero, enquanto as águas fluem dentro e fora, num ritmo igual.
Só os olhos protestam - por que ainda protestam os olhos?
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