Xavier Placer
XII
M E N I N O
NAS farmácias havia grandes bolas de vidro: verdes, vermelhas, amarelas. Todas as farmácias deviam ter bolas assim? Um dia soube que não eram de vidro maciço. Tinham água. Só para enfeitar. E as bolas coloridas despojaram-se de mistério, esqueceu-as.
Imenso era o mundo. Girando, girando. Nós vivíamos na casca. Não caíamos porque em relação, éramos formigas. Um problema: mas as montanhas, por que não tombavam as gigantescas montanhas?
O mundo era imenso, mas o Brasil era maior que a Europa e dentro dele cabiam todos os países da Europa, exceto a Rússia. A Rússia. Como seriam lá as pessoas? Certamente não tinham caras iguais às da gente, vulgares criaturas, e falariam de um modo incompreensível. Fechando os olhos, não muito... Assim era a Rússia.
Havia uma porção de coisas que a gente via, e silenciava. Acontecia o mesmo com os outros? Quando um raio de Sol varava a fresta da veneziana um risco de poeira dançava e dançava. Não poder andar num raio de Sol!
Também soavam nos ouvidos umas cantigas que teimavam na cabeça e vinham aos lábios sem querer:
Bem-vindas, bem-vindas,
gentis violetas!
Azuis borboletas,
do verde matiz.
Delicioso cantarolar isso sem mover os lábios. Para ninguém de ninguém saber. Entre a gente e a gente. Só. Só não, havia alguém que via e ouvia tudo, até adivinhava os pensamentos antes de ser pensados: Deus. Mas Deus não valia, porque era o mais poderoso dos seres, o pai de todos, e nos havia criado do nada.
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