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        VI

 

S O Z I N H O

 

 

 A ÁGUA do repuxo cai no tanque com preguiça. As estatuetas - Primavera, Verão, Outono, Inverno - fingem sorrir nos pedestais. Um casal de namorados alheia-se a sonhar.

    Só as crianças não reparam a tarde e dão gritos nervosos, atirando-se para o alto nos balanços - réque, réque! réque, réque! - sob as árvores sem pássaros. Os olhos compridos do menino aleijado espiam do carro.

     A matriz trancou as portas. Os soldados do Senhor disputam almas a Satã na via pública. Chegam sérios, atacam um hino; uma guerreira de faces desbotadas promete delícias (celestes) aos castos e aos de boa vontade.

    Desperta, pecador!  O reino  dos céus não é dos tímidos, mas dos que se fazem violência e forçam as portas. Que esperas ainda ao divino convite?

     Ai de mim,  meu insensato  coração é um escravo, só sensível às doçuras do tempo!

      O  tédio  - ou é o crepúsculo?  - estende  um manto no jardim. Só eu o pressinto? Que se passa na alma dos outros? Eis o inferno dos que não crêem. Talvez o menino do carro me pudesse avançar qualquer coisa.

        Já se foi.

     Sou um homem de mãos vazias na tarde cinza, na vida cinza - sozinho.

 

 

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