Xavier Placer
II
O S D I A S
NÁUFRAGO de ti, vogas nas águas do sono...
Um galo ( que não ouves ) saúda o nascer do dia
(Manhã)
Com o sabor de sonhos na boca, descerras a janela, e bebes o ar da manhã, o ar da vida. Vitorioso, armas-te para uma nova refrega impelido pela volúpia de existir. Tua ardente pupila fita o Sol, com orgulho.
(Meio-dia)
E participas, fazes gestos, pensas em eletrocutar teu inimigo, pecas sete vezes em obra e pensamento, corres ao encalço da fada Morgana, lês periódicos. Confundido no rebanho, és um zero.
O Sol, a pino, dispensa a tua própria sombra.
(Tarde)
À mesa do bar, entre outros rostos, encompridas o olhar para as mulheres que passam. Calas-te, incapaz de um gesto. O tédio escorre das fisionomias, pinga no asfalto.
"Tudo é inútil, meu caro!"
Mas os homens atribuem ao calor e ingerem refrescos.
(Noite)
E te abismas em face dos astros:
"Quem sou eu?"
O cansaço atira com teu corpo para cima do leito, e te elimina, provisoriamente, todos os problemas, todas as angústias.
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