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       II

 

O S  D I A S

 

 

 NÁUFRAGO de ti, vogas nas águas do sono...

Um galo ( que não ouves ) saúda o nascer do dia

 

 

(Manhã)

 

 

      Com o sabor de sonhos na boca, descerras a janela, e bebes o ar da manhã, o ar da vida. Vitorioso, armas-te para uma nova refrega impelido pela volúpia de existir. Tua ardente pupila fita o Sol, com orgulho.

 

 

(Meio-dia)

 

 

     E participas, fazes gestos, pensas em eletrocutar teu inimigo, pecas sete vezes em obra e pensamento, corres ao encalço da fada Morgana, lês periódicos. Confundido no rebanho, és um zero.

       O Sol, a pino, dispensa a tua própria sombra.

 

 

(Tarde)

 

 

      À mesa  do bar, entre  outros  rostos,  encompridas o olhar para as mulheres que passam. Calas-te, incapaz de um gesto. O tédio escorre das fisionomias, pinga no asfalto.

       "Tudo é inútil, meu caro!"

       Mas os homens atribuem ao calor e ingerem refrescos.

 

 

(Noite)

 

 

E te abismas em face dos astros:

"Quem sou eu?"

      O cansaço atira com teu corpo para cima do leito, e te elimina, provisoriamente, todos os problemas, todas as angústias.

 

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