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HORA da criação é uma hora de amor.

     A alma em êxtase, sobreleva-se a si mesma, e arrebata no arranco todas as faculdades, todas as potências. Brilha a luz nos subterrâneos, a luz explode. É a hora do Espírito. 

      Mas por uma hora de amor, há muitas horas de dor.

      Sopra o  simum,  apaga-se na areia ardente o desespero do poeta. Desce a treva, emudecem as fontes, e a Musa se ausenta. Longo exílio. É a hora da Vigília.

      E  ei-lo a errar, entre os homens, no mundo, sob o céu sem astros e a terra inóspita, em triste estado de realidade, o Visionário!

 

 

      Ora, um dia estirei-me na relva que cresce no chão do meu quarto.

   Sem demora, sem ruído, abateram-se os muros e mergulhei no caos, id est, em mim mesmo.

      Asas começaram a brotar da relva,  intonsa  e  verde, relva em tecnicolor, e não brotavam da relva propriamente, e sim do meu peito.

        Tumultuárias, tumultuárias.

        Porém o maravilhoso foi quando me ergui.

     Colhendo-as - não eram asas, mas flores - peguei a atirá-las pela janela. E eram meu passado, meus silêncios, a angústia do tempo e a esperança: o meu ser profundo.

      E  a  manhã  me  surpreendeu prodigalizando minha riqueza fabulosa de senhor do mundo num delírio, a mancheias!

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