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Enquanto  Cesário estivera com os colegas, a família do senhor gordo havia virado as poltronas e viajava agora de costas.

          –  Não repare ter modificado isto, jovem! Minha senhora e minha filha preferem viajar assim…  –  foi-lhe  dizendo o sujeito com intimidade, quando ele se aproximou.

          – Oh, à vontade! – murmurou Cesário, metendo-se em seu lugar, no canto da janela, ao lado do homem gordo.

        – São  gostos…  E, “de gustibus et coloribus”...  como lá diz o provérbio latino…

       A mulher fuzilou um olhar e ele calou-se; o homem gordo não aprovara aquela modificação e haviam discutido um pouco antes.

           Cesário não pode deixar de sorrir àquele latim. Pôs-se a olhar pela janela. As pessoas gordas são quase sempre bem humoradas, Aquele sujeito não demoraria, por certo, em puxar conversa com ele… A mocinha de azul envolvera-se num casaco cinza. Fora o casaco que a mão lhe recomendara na estação, pensava Cesário, a imaginação a borboletear de observação em observação…

       Sentada em frente do senhor gordo, que desdobrava um jornal, parecendo distrair-se na leitura dos anúncios, a senhora dormitava com a cabeça nas costas da poltrona; a seu lado, ora olhando a noite pela janela aberta, ora folheando sem interesse uma revista que tinha nos joelhos, a mocinha de azul dava a impressão de alheia àquilo tudo.

         Cesário virou a cabeça e os olhos se encontraram um momento com os dela. Ela sorriu. Ele baixou a cabeça, vermelho. Não pode, porém, deter esta observação: “É bonita!”

          Tirou do bolso a carta de Padre Tobias e começou a relê-la; mas não conseguia compreender nada. Sentia agora sobre ele os olhos observadores da mocinha de azul, as palavras a embaralhar-se na cabeça.

           Pensou em lugar de lugar. Era o melhor que fazia. Ela era bonita. As tranças ficavam-lhe muito bem. Mas… que estava pensando? Ah, ia mudar de lugar. Cruzara as pernas. Os joelhos… Maldita imaginação a sua!  Assim que vagasse um lugar, mudar-se-ia, pois aquilo não ia bem… Ela continuava a observá-lo. Julgaria que ele, lendo a carta, não estava percebendo nada… Como se enganava!

           Pela janela aberta penetrava um friozinho sutil. Cesário ergueu-se e vestiu o capote. Quando de novo se sentou, a mocinha dirigiu-se a ele:

            – Caiu do seu bolso.

            – Oh, obrigado!

        Era o envelope da carta. Amassou-o e jogou-o pela janela, sem refletir no gesto.

         Mas logo em seguida: Não devia ter feito aquilo, que estupidez… Ela apanhara-o do chão e ele, ato contínuo, atirava-o pela janela. Que indelicadeza!

           Disfarçadamente, olhou-a de soslaio para ver o resultado daquilo.

        Cabeça  pendida,  a  mocinha  folheava a revista, deixando ver a riscada certa do cabelo e a linha das feições que lembravam a Cesário um vitral da capela do Seminário, onde se via o Cristo na casa de Betânia, entre Marta e Maria…

         Mas que tinham um com o outro? Ou melhor, que ele com ela… Que absurdo. Para que diabo ia guardar o envelope?

          Jogara-o  fora  porque  não  lhe servia para nada, ora essa. Era a coisa mais natural; não havia indelicadeza nenhuma… Se o pai puxasse conversa com ele, isso é que iria mal… Como mudar, depois, de lugar? Ficaria notado, se já não o estava…

        Ela  descruzara  as  pernas. Era bonita. As tranças ficavam-lhe muito bem. Era bonita. Lembrava-lhe Marta no vitral da capela. Era bonita. Mas meu Deus, porque caminhos estava-se deixando levar! Chamava-se Leda. Não queria pensar naquilo. Leda queria dizer alegre, risonho… Ela tinha mesmo um jeito risonho… e que olhar vivo e inteligente. Impossível que tivesse mais de dezessete anos. Nesse caso, seria um ano mais nova do que ele. Um ano só. Talvez meio. Ou da mesma idade. Não, era mais nova, deveria ser mais nova. Mas não queria pensar nela. A tragédia biológica da mulher. Onde teria visto isso? Um livro? Não queria saber, não queria pensar em nada. Anchieta metrificara um longo poema à Virgem para livrar-se das solicitações dos sentidos.

        Ia dizer mentalmente o exórdio da Eneida. Arma virumque cano Troiae qui primus ab oris Italiam fato profugus Laviniaque venit. Não, aquilo era muito cacete. Era melhor contar quantas palavras Padre Tobias usara na carta que lhe escrevera. Ela quase não tinha… oh horrível. Uma, duas três, quatro… tornara a cruzar as pernas… sete, oito, nove… puxara o casaco para cobrir os joelhos, há pouco não tivera aquela preocupação...dezoito, dezenove, vinte, vinte e uma… que quereria dizer aquilo… Vinte e duas, vinte e três, vinte… Também estaria tomando conhecimento da presença dele? Trinta, trinta e uma , e quatro e oito… erguera-se e estava debruçada à janela… quarenta e cinco… agora é que reparara; era morena… cinquenta e sete … Padre Tobias usara portanto, levando em conta que só chegara ao meio da página, cento e quatorze palavras.

         – Cuidado, Leda, as  fagulhas  da  máquina  podem  irritar seus olhos… Era até melhor fechar a janela, está esfriando! disse o senhor gordo.

             – Não, papai, está bom assim… Eu quero assim, deixe!

       Era voluntariosa; talvez fosse educada com todas as vontades satisfeitas… Filha única… Mas quantas palavras teria usado Padre Tobias na segunda folha? Também… a uma criaturinha assim ele compreendia perfeitamente que não se tivesse coragem de negar nada… Que estaria fazendo Tilda àquela hora?  Talvez com o noivo… Leda é bela. Leda, porque? Estava se referindo a ela como se a conhecesse, essa era boa. Leda é bela; isto, em Lógica, era um juízo afirmativo. Leda é bela; ora, Leda queria dizer alegre, risonho; logo, a alegria é bela. A beleza… Seria um bem ou seria um mal? Sentara-se de novo, como era delgada! Se estivesse sem capote… É claro que era um bem. Mas o pecado… Tolice. Que tinha a beleza com o pecado? … Leda seria religiosa? Era. Não, não tinha jeito… Mas era. As meninas religiosas eram diferentes, usavam roupas largas, compridas, escondendo o corpo… Mas estava muito bem, não devia ser de outra forma; o que importava era a beleza da alma. Lembravam umas bruxas… Não fazia mal. Fazia. Não queria saber daquilo. Leda era delgada, agora é que ele reparara; as tranças dela estavam soltas… tinha uns lábios muito finos; ele nunca beijara uns lábios; mas meu Deus, que era aquilo? estava pecando mortalmente; já a examinara da cabeça aos pés – dera toda a liberdade possível a seus sentidos. Não devia ter feito aquilo; pecara mortalmente em pensamento. Não, não pecara, tudo aquilo desenrolara-se intelectualmente; a vontade não tomara parte. Ou tomara? Teria ele desejado? Não. Ou teria? Estava em dúvida. In dubiis libertas, portanto não desejara. Mas aquilo não seria sutileza dele?  Desejara ou não? Desejara. Então pecara mortalmente. Mas a vontade não havia aderido; aquilo era um excesso de escrúpulo moral… Havia, havia sim, mas não queria pensar mais naquilo. Quando se confessasse acusaria..,  A castidade. Seria ele capaz de, uma vez feito aquele voto, observá-lo para sempre?  Porque sempre acreditara nisso? Quem sabe se era exatamente isso que preocupava, por ocasião do “diaconato”, o Gabriel. Leda é bela. E ele, seria capaz? Não tinha reparado nas unhas, se não as pintasse seriam mais interessantes. Mas como estava pensando, a castidade… os seios dela eram pequenos… Ia mudar de lugar, ia mudar de lugar; haveria lugar por ali? não havia… Leda estaria notando a agitação dele?

       “Meu  Deus,  salvai-me  desta  situação;  a  minha  miserável imaginação arrasta-me, faz-me pecar mortalmente – maldita imaginação! E pensar que para outras coisas, sou tão pouco inventivo. Só tenho uma coisa a fazer; vou levantar-me daqui”.

            Deixou-se ficar. O senhor gordo dobrara tranquilamente o jornal e tomara um ar de quem vai puxar conversa.

           – Uma bela carreira, o sacerdócio, disse de repente, balançando a cabeça como para mostrar que estava seguríssimo do que dizia – Uma bela carreira, sim senhor, sem desfazer da medicina e da engenharia, acrescentou.

       Cesário teve que sorrir para o homem gordo. Agora é que não poderia sair dali; estava perdido! Leda…

            – Vão para São Paulo, não é?

            – Vamos, ciciou Cesário.

            – E são muitos? Pelo que vejo…

            – Uns quarenta.

           – Tantos assim? Hum, eu julguei que eram só estes que aqui vão. Então viajam espalhados?

            – É, espalhados.

            – Sim senhor, sim senhor. São quase todos padres, não?

            – Não senhor, nenhum o é. Minoristas, subdiáconos…

         –  Muito bem,  muito  bem.  Grande  coisa, grande Instituição, a Igreja!

            E voltando-se com certo desembaraço para Cesário:

         – Eu sou franco, não professo religião nenhuma; para mim (isto, aliás é opinião puramente pessoal, o senhor não leve a mal) todas elas são boas… Desde que mandam praticar o bem e evitar o mal, acho que todas são boas…

            – É… é uma opinião…

         –  Mas  tenho  grande  simpatia pela religião católica, ah, tenho! Aliás, sou sobrinho de bispo.

            Cesário levantou-se.

            – O senhor talvez conheça o meu tio bispo…

        – Com  licença  (o homem gordo deu-lhe passagem) Como se chama?

             – Dom Francisco… Dom Francisco Pereira Lobo!

             – Não conheço.

             –  Pois é muito falado. Um grande orador sacro.

             – De que diocese ele é?

       –  De que diocese? Ah, no momento não me recordo bem a diocese…

           Cesário foi-se retirando desajeitadamente, murmurando um “com licença” para o senhor gordo, que ainda a segui-lo com o olhar se pôs a conversar com a filha.

               Na sua imaginação, a mocinha era agora uma mancha azul, nítida e insistente, a deformar-se em tentáculos, a persegui-lo…

        Passou para o carro seguinte onde viu colegas a conversar ou dormitando com a cabeça para um lado, pulou para o outro, seguindo sempre adiante, encontrando aqui e ali uma batina entre roupas leigas.

          No  quarto  carro  esbarrou  com o Brandão, que lhe perguntou aonde ia.

              E como Cesário não lhe desse logo resposta.

              – Ó Cesário, você procura o carro-restaurante?

              – Sim, onde fica?

             – Mas está com fome? Se está com fome venha comigo, que eu tenho uns pastéis…

              – Deixe os pastéis…

              – Está se sentindo mal?

         – Também  não.  Estou  com sede!  disse  ele para liquidar o assunto.

          – Oh, então vamos ao carro-restaurante… Mas que cara, santo Deus! Você costuma enjoar em viagem?

             – Não me lembro, não sei, é possível…

             – E, para onde quer ir você? exclamou o prestativo colega, vendo Cesário encaminhar-se para a frente.

           Só então reparou o equívoco: havia-se dirigido para os primeiros carros da composição, em vez de procurar os últimos.

             Mas Brandão segurava lhe o braço:

            – É pra lá… Você parece que está estonteado! Vai ver que jantou hoje!

             – É claro. Ia fazer a viagem em jejum?

       – Em  jejum  não,  quem lhe diz isso? falava alto o colega, caminhando na frente e recomendando-lhe cautela ao saltar de um vagão para outro. Não é isso, continuava ele, a gente quando vai fazer uma viagem longa, deve comer somente uns frios ligeiros…

             – O que? perguntou Cesário, julgando ouvir mal.

          – Frios! Que haveria de ser? Uma coisa leve, como fiz eu, para estar agora sãozinho da silva…

           – Quem?  tornou  a  perguntar Cesário que com o tan-tan… tan-tan… monótono e surdo do trem, no escuro da noite, não conseguia ouvir direito.

            – Quem haveria de ser? O degas! Oscar Brandão, seu criado! hi, hi, hi…

         Cesário esforçava-se por prestar-lhe atenção, por atordoar-se a falar, a falar fosse o que fosse, apenas para não ficar calado, para que o pensamento não se detivesse em torno da mancha azul, da larga mancha azul, nítida e insistente…

       – É aqui neste! Dê um pulo! Cuidado com os freios, não vá atrapalhar-se nas correntes…

             E ao ver o outro saltar:

             – Isso!

           Brandão empurrou a porta do carro-restaurante e foi entrando na frente. Cesário entrou atrás dele.

        Sob  a  iluminação  mortiça do gás, dois garçons sem pressa serviam os passageiros numerosos em mesinhas cobertas com toalhas de xadrez; em duas ou três estavam abancados seminaristas a bebericar café, conversando e fumando com o ar noturno de quem empurra horas longas e lentas… Mal haviam aparecido à porta, um colega fez-lhes sinal para que se aproximassem.

           – Você quer ficar por aqui ou vamos para as mesas deles? disse Brandão, solícito.

             Sentaram-se junto dos colegas.

           Vitor, ao lado de quem Cesário tomara lugar, acolheu-os com um “bravos!” E depois, passando a mão para as costas de sua cadeira:

          – Mas então, onde se meteu você que ainda o vi nesta viagem, Cesário?

             – Por aí, Vitor…

       – Mas você também vai tomar café, Cesário? interrompeu-os Brandão.

             – É claro…

             – Porque esse também, Brandão? perguntou Vitor, admirado.

             – É que ele não está se sentindo muito bem! esclareceu o outro.

             – Enjoou?

            – Não tenho nada, Vitor! Brandão quer me fazer doente à força… Não tenho nada!

          – Então  são  saudades de casa! Já sei, são “sôdades” de casa, hein? disse o Delmir que se conservara calado até ali.

          Quatro colegas, inclusive o Carlos Alberto, haviam-se levantado das mesas e passavam por eles.

           Este deu um tapinha nas costas de Cesário (era um hábito seu, com certos colegas) e, sorrindo-lhe, desapareceu com os três novatos que o seguiam desde a hora do embarque, na estação.

          – Que tipo! murmurou Brandão, fechando a cara. Vocês querem tomar outro café? Não? Pois eu quero. Psiu! Psiu!

           Mas Delmir, o que falara em saudades, ficou senhor da palavra e contava a sua despedida em casa, as lágrimas da mãe, da irmãzinha menor, e como ele, afinal, fora forte.

            – Puxa! que até senti um nó na garganta!

          Brandão pôs-se a zombar dele; o outro exaltava-se, defendendo-se, enquanto Vitor, com a superioridade que desfrutava, ou imaginava desfrutar, entre os colegas, pelo prestígio de sua memória, dizia, conciliador:

          – Tolice! Isso de sentimento é muito pessoal! Uma vez li em São Bernardo… etc.

          E a conversa se dispersava. Com a intromissão dos colegas da mesa vizinha, os assuntos se confundiam.

             Um oferecia cigarro ao outro, aquele atirava a fumaça para o alto, que subia em volutas…

             Cesário ia ouvindo aquilo tudo, dava a sua opinião de quando em quando, e como não fumava, deixava-se ficar calado, tamborilando maquinalmente com os dedos sobre a mesa.

          Entrementes,  o  trem  estava se aproximando de um lugarejo pobre, perdido num descampado. A mancha acinzentada de uma capelinha, solitária sobre uma elevação que ele e Vitor vinham agora observando de longe, cresceu inesperadamente a seus olhos. E ambos tiveram igual ideia.

              Foi Cesário porém quem falou:

              – É verdade, ainda não rezei o terço, hoje!

              – Nem eu, acrescentou o outro.

              – Não? Vamos rezá-lo juntos, quer?

              – Mas não estamos dispensados? Em viagem, motivo justo…

              – Eu vou rezar, não custa nada. Vai?

              – Que é que vocês estão combinando? falou o Brandão.

              – O terço…

              – Ah, já rezei há muito tempo!

              – Bom, então vamos, resolveu Cesário.

             Deixaram o carro-restaurante. Estavam do lado de fora e Cesário ia saltar, quando a porta do outro vagão se abriu. Inesperadamente, apareceu-lhe diante dos olhos o senhor gordo. Vinha com a mocinha de azul que, abraçada a ele, descansava a cabeça em seu ombro, deixando-se levar, muito pálida.

             – É uma maçada! Veja o senhor, disse o homem gordo a Cesário, teimaram em não querer vir em carro-dormitório, agora é isso…

              E meteu-se com a filha pelo carro-restaurante a dentro.

          Cesário sentou-se em seu lugar; o colega tomou a poltrona do homem gordo e, sem dizerem palavra, começaram a rezar baixo o terço.

         Quando  terminaram.  Vitor confessou-se  cansado, com sono (bocejou ligeiramente para mostrar que não mentia) e tornou a seu lugar.

         Cesário ficou só, olhando a noite que ia alta, entregue a seus pensamentos. O céu estrelado e profundo, em cuja negrura de quando em quando uma estrela cadente corria rápido, fazia-o devanear. E a trepidação ruidosa do trem, rolando por planícies sem fim, parecia-lhe agora mais forte e mais surda.

             O  condutor,  um  homenzinho  escondido  em grosso capote e óculos escuros, entrou picotando os bilhetes e informava, por entre dentes, a um velhote insone, que saboreava pipocas enchendo a boca às mancheias, que a primeira estação era Barra do Piraí.

        Mais  além tornavam a fazer-lhe a mesma pergunta, a que resmungava invariavelmente a mesma resposta, passando adiante.

            Cesário observava com tédio tudo isto, quando de súbito sentiu no rosto uma lufada fria de vento.

             A  temperatura mudara bruscamente. Uma neblina forte invadia as janelas abertas. A maioria dos passageiros apressou-se em correr as vidraças.

            Ele  levantou-se  também  e  fechou  a  sua  –  a  impressão entretanto ficara…

             Aquela atmosfera embaçada das noites (ou manhãs) friorentas agia sempre sobre sua sensibilidade de uma maneira singular.

           Não  chegava  a  definir-se,  aquela  impressão. Apenas uma memória antiga cristalizava fragmentariamente – aqui um vazio, ali uma fixação obscura, de novo a mesma frágil continuidade… – o clímax de um tempo passado. Mas onde? Quando? Não conseguia apreender; aquilo escapava-lhe vago, a própria impressão se diluía… Então um sentimento estranho – incaracterístico demais para chamar-se tristeza ou melancolia – dominava-lhe o espírito. Isto lhe acontecia quase sempre que se isolava, em passeios a lugares ermos, a sítios onde ia pela primeira vez…

                Agora, aquilo se repetia ali.

                Ficou assim algum tempo, à mercê daquele desgosto, anônimo, daquela adormentada indiferença, até que os últimos reflexos conscientes foram perdendo a intensidade, empalidecendo, afastando-se para um fundo sombrio e cheio de ruídos iguais, iguais, até não perceber mais nada.

                As pálpebras, como duas conchas mecânicas, entregaram-se…

 

 

VII

 

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