top of page
Xavier Placer
XVIII
O POETA SUICIDA-SE
A VIDA era indigna. A vida ofendia o humano orgulho. O poeta ia suicidar-se.
Retirou o fone do gancho, engatilhou o revólver e estava admirado da serenidade com que procedia na penúltima hora.
A mensagem era indispensável. O poeta que ia suicidar-se conhecia o seu dever. Conhecia. Sentou-se à mesa para cumpri-lo.
Os galos cantavam; não para ele. Noite adentro, o poeta que ia suicidar-se avançava, escrevendo escrevendo escrevendo.
No fim, releu.
(Não há, para criar, como em estado de tensão!)
Quando a primeira claridade fez psiu na vidraça, o poeta acabava o poema. E como cabeceava de sono, foi dormir.
Pag
20/37
bottom of page
