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XVI
 
 
O SÁBIO

CARREGAVA UMA CABELEIRA, de prata e alvoroçada, mas não era maestro, sequer músico.

     Poliglota.  Dominava  um rol de  línguas mortas, silenciava noutras tantas vivas, nem ao todo sabia quantas.

        Sobretudo  era  forte  em  etimologias. Neste terreno não havia problema intrincado, étimo, que ele não destrinçasse.

       Tomava o vocábulo e, como faz o garoto ao boneco (mal comparando), punha-o pelo avesso.

          “Cadáver, mestre?”

        “Do latim: ca (ro) da (ta) ver (mibus), isto é, carne dada aos vermes.”

          “E velhaco, mestre?”

     “Esse, do  próprio vernáculo,  verificando-se  a aglutinação ou síntese dos elementos analíticos: velho + caco = velhaco.”

       No intervalo das vinte cátedras que regia, o sábio despachava artigos, estudinhos e correspondência para duzentas academias anglo-germânicas.

 

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