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AQUELAS  ROSAS

 

 

 A ADOLESCÊNCIA me dava ao perfil magro o cabelo caído na testa, as espinhas no rosto e o mistério dos pelos. Eu era todo ávidas pupilas, narinas escancaradas, epiderme e papilas, e os outros sentidos - o sexto - também os que estão por definir: dezessete anos, um animal cheio de instintos, largado e absurdo, um dono da vida.

     E bem, aquelas rosas de praça pública - muitas, e orvalhadas, cor de sangue e ocaso - estremeceram ao me ver. Ignoro se de contentes, se de intimidadas, mas sorriram, sorriram que eu vi, e longamente. Quedei-me a flertar com estas donzelas imprudentes, como eram belas!

      Não houve nada entre nós. Mas vieram comigo para a capital, e largo tempo forma e colorido seus me acompanharam. Por vezes viajavam para longe, sem um adeus. Eu as esquecia. De supetão, ao dobrar de uma esquina, em horas mortas, lá se entregavam como putas discretas. Ou, em sonho, desabrochavam em confidências a que na vigília se negavam. Certa noite, reclinadas em seu peito, suspiraram sem palavras.

      Identificadas comigo, eram por fim um pouco de mim mesmo.

      Um dia, tomando-as em buquê, ofertei-as à amada - ah, que as afastou num gesto, porque preferia os crisântemos, os louros crisântemos!

 

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