VIII
N O I T E
É NOITE. Vaga, à distância da mão, entre nuvens, a Lua. Um roçar de asas: é a brisa que sopra, a medo. Ó noite profunda, ó doçura da solidão - murmuras sem mover os lábios, absorvido em ti mesmo.
Foi-se o teu eu cotidiano, com pudor recolheu-se para o último plano. E o outro que se calava, intimidado pela crueza da luta, emerge e expande-se.
Sentes que este és tu. As palavras que este diz e os gestos que faz são as palavras e os gestos teus. E te desgostas - ó náusea! - à consciência da fatalidade de ser dois.
Não condenes, nem te condenes. Um dia esta impura construção ruirá com estrondo e no incêndio que lavrará de seu próprio arcabouço, tudo se consumirá maravilhosamente.
E das cinzas há-de renascer um terceiro homem - aquele que dormindo és a imagem, aquele cujos contornos não se refletem na relatividade de espelho nenhum.
Oh, vamos crer, vamos esperar!
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