Xavier Placer
XXIX
OFICINA
LÁ NO ALTO, nas traves, é o céu do picumã. O tempo empreteceu as paredes, rudes tenazes pendem nos espetos de pau.
Chifre de boi para dar sorte.
O gato cofia o pelo nas pernas do rapazola de mangas arregaçadas. O bom-dia grave do mestre movimenta a oficina.
Gestos da mão laboriosa, e o aprendiz aciona o fole. O braseiro estala, fagulha – serpentinas, rubras línguas lambem o ar.
500... 1000... 1000 e muitos graus.
Encandecido, o ferro luminesce em radiações:
VERMELHAS
AMARELAS
BRANCAS.
Homem que ama interrogar qualquer grão de areia ou gota d´água, pensa na idade monocromaticamente. Instinto; depois todo Alma, mas só; e pressente a Alvorada que o espera: o reino branco do Espírito.
Os olhos do gato se dilatam (dois círculos perfeitos) anunciando esta epifania.
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